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O momento presente é já o da autodestruição do meio urbano. O rebentar das cidades sobre os campos, cobertos de «massas informes de resíduos urbanos» (Lewis Munford) é, de um modo imediato, presidido pelos imperativos do consumo. A ditadura do automóvel, produto-piloto da primeira fase da abundância mercantil, inscreveu-se no terreno com a dominação da auto-estrada, que desloca os antigos centros e exige uma dispersão cada vez maior. Ao mesmo tempo, os momentos de reorganização incompleta do tecido urbano polarizam-se em torno das «fábricas de distribuição» que são os hipermercados edificados em terreno aberto com um parking por pedestal; e estes templos do consumo precipitado estão eles próprios em fuga no movimento centrífugo, que os repele à medida que eles se tornam por sua vez centros secundários sobrecarregados, porque trouxeram uma recomposição parcial da aglomeração. Mas a organização técnica do consumo não é mais que o primeiro plano da dissolução geral que conduziu a cidade a consumir-se a si própria desta maneira.


Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo, Ed. Antígona, 2012
O texto original data de 1967.

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